sábado, 26 de janeiro de 2013

Tagliata di Carne - Tagliata de Carne

Esse prato é extremamente simples e famoso em toda Itália; tradicionalmente conhecido como um prato de rua, feito em pequenos estabelecimentos, mercados, carrinhos. Ganhou grande notoriedade pela combinação de sabores, que apesar de marcantes, combinam entre si perfeitamente.

O termo tagliata significa algo cortado, picado, já que a carne bovina utilizada no preparo é finamente fatiada. Essa receita é também versátil, podendo servir como uma entrada, como um prato principal, em dias quentes, ou mesmo para um almoço mais rápido e informal.

Para o preparo da Tagliata, você precisará:

- 400 g. de filé mignon ou outra carne macia;
- 1 maço de rúcula bem fresca;
- Parmesão em lascas grandes;
- Aceto Balsâmico di Modena;
- Azeite;
- Sal;
- Pimenta do Reino;
- Raspas de casca de laranja (opcional);

Minha sugestão é que você comece pela redução de aceto balsâmico, já que ela poderá demorar em torno de 40 minutos. Coloque um copo cheio de aceto balsâmico em uma panela pequena e leve ao fogo baixo, mexendo periodicamente, de forma seja reduzido e fique mais encorpado. Alguns adicionam sal e pimenta do reino, outros adicionam um pouquinho de açúcar logo no início da redução - pessoalmente prefiro natural. Assim que estiver na consistência de um xarope, desligue o fogo e reserva para esfriar em temperatura ambiente.

Lave bem a rúcula, higienizando-a com muito cuidado; assim que estiver bem limpa, seque-a com o auxílio de um pano bem limpo, ou com secadores giratórios, próprios para secar folhas verdes. Tempera-a com sal, pimenta do reino, um pouco de azeite e 30 ml de água bem gelada. Prove, acertando o sal e a pimenta conforme seu próprio gosto. Reserve.

Tempere o filé com sal e pimenta do reino, levando-os à geladeira por aproximadamente 15 minutos; depois desse tempo, retire-os da geladeira e unte os dois lados com um pouco de azeite. Enquanto isso, esquente uma chapa de metal ou de cerâmica (veja foto abaixo) por aproximadamente 5 minutos em fogo médio-alto, e em seguida acomode os pedaços de filé sobre ela.

Uma dica importante: não fique virando os pedaços de carne constantemente, pois eles liberarão água e não ficarão suculentos; o segredo é colocar os filés sobre a chapa ou grelha por 3 minutos de cada lado, virando-os uma única vez. Isso fará com que o filé fique selado, o sangue ficará dentro da carne, e como resultado ela ficará macia e suculenta.

Transcorridos os 6 minutos totais, desligue o fogo, retire os filés da chapa, fatiando a carne finamente, em grossura de aproximadamente meio centímetro. Reserve em local aquecido.

A receita está pronta; agora acomode a carne fatiada e sobre ela despeje um pouco da redução de aceto balsâmico e azeite; coloque a rúcula temperada em cima, a casca de laranja ralada (opcional) e um lasca grande de parmesão.

Para acompanhar, sugiro um vinho tinto leve, frutado ou mesmo um Lambrusco frisante tinto, bem gelado.


domingo, 20 de janeiro de 2013

Conchiglioni di Ricotta e Noccioline - Conchiglioni de Ricota e Nozes


O Conchiglioni é um tipo de massa extremamente versátil, pois pode ser recheado de inúmeras formas, combina com ingredientes variados, além de ser uma ótima opção para fugirmos do trivial spaghetti ao sugo.

Particularmente gosto do conchiglioni com recheios suaves, em especial à base de queijos leves, bons para serem feitos em dias quentes.

Hoje apresentarei a vocês um recheio simples e muito delicado: ricota com nozes; como base utilizarei um molho branco, também conhecido como Bechamel ou Besciamella, na língua da velha bota.

Para isso precisaremos:

- 500 g. de conchiglioni;
- 400 g. de ricota de boa qualidade e muito fresca;
- 100 g. de nozes;
- 200 g. de queijo Gruyère ou Parmesão para gratinar;
- 1 copo pequeno de creme de leite;
- 8 colheres de sopa de azeite de oliva;
- 5 colheres de sopa bem cheias de uvas passas brancas;
- 3 colheres de sopa de alcaparras;
- 30 g. de manteiga;
- 30 g. de farinha de trigo branca;
- 400 ml de leite integral;
- Nóz-moscada;
- Sal;
- Pimenta do Reino;

Preparo do Recheio:

Com o auxílio de um processador, moa as nozes de forma irregular (veja foto acima), para que ainda permaneçam pedaços maiores na mistura e garantindo que sejam perceptíveis ao serem mastigados.

Em seguida, misture a ricota, o azeite, o creme de leite, sal e pimenta do reino, amassando tudo inicialmente com um garfo (veja foto ao lado); é importante que o recheio fique bem homogêneo e macio, eliminando os grumos que naturalmente se formam na ricota. O recheio deve ter uma aparência bem lisa.

Adicione as uvas passas e as alcaparras, agora misturando o recheio com as próprias mãos; faça essa etapa de maneira suave, para que as uvas e as alcaparras permaneçam inteiras.

Acerte o sal, a pimenta do reino, e deixe descansar em local refrigerado; essa tempo será importante para que a ricota absorva o sabor de todos os ingredientes. Seu recheio já está pronto.





Preparo do Molho Branco ou Besciamella:



Acomode os 30 g. de manteiga em uma panela de fundo grosso, levando-a ao fogo bem baixo; assim que a manteiga começar a espumar, adicione lentamente os 30 g. de farinha, lembrando-se sempre de peneirá-la, além de mexer a mistura constantemente com um batedor de arames (fouet).

Depois de uns 4 minutos, a mistura de manteiga e farinha, já engrossada, começará a espumar. Isso significa que a farinha está cozida e iniciou a liberação de amido.

Lentamente adicione o leite, mexendo constantemente para que a mistura não acumule grumos, aqueles pequenos acúmulos de farinha. Caso isso ocorra, não se desespere; continue batendo a mistura com vigor e logo essas pequenas bolinhas serão desfeitas. Dica importante: a formação de grumos é mais frequente quando se utiliza uma colher de pau ao invés do batedor de arames; o último dos recursos é levar seu molho branco ao liquidificador - não estraga e volta a ficar liso.

Aos poucos o molho branco começará a ganhar consistência; esse processo pode levar aproximadamente 15 minutos; não tente acelerar a receita elevando a temperatura do fogão !!

O ponto ideal do molho branco é quando ele for capaz de cobrir as costas de uma colher de pau de maneira uniforme. Rale nóz-moscada e em seguida desligue o fogo. Reserve.

Em uma panela grande, com bastante água em ebulição, adicione uma quantidade bem generosa de óleo e um punhado de sal grosso para o cozimento dos conchiglioni. A quantidade de óleo é importante, já que a massa deve ficar solta, sem que as conchas grudem umas nas outras. O tempo de cozimento deve ser um torno de 16 minutos, para que a massa fique al-dente e que possa ser recheada sem se desfazer.

Com o auxílio de uma pequena colher, acomode o recheio dentro de cada uma das conchas, dispondo-as sobre uma assadeira anti-aderente. Caso você não tenha uma assadeira anti-aderente, forre uma assadeira comum com papel manteiga.

Assim que todos os conchiglioni estiverem recheados, cubra-os com o queijo Gruyére ou Parmesão e leve a assadeira em forno pré-aquecido em temperatura bem alta por uns 8 minutos, até que o queijo esteja gratinado.

Caso seu forno possua a função "grill", então desligue o forno assim que estiver bem quente, ligue-o na função gratinar por uns 5 minutos e só então coloque a assadeira dentro.

Assim que os conchiglioni estiverem com a cobertura levemente dourada, retire-os do forno com cuidado, acomode-os em um prato e adicione o molho branco.

Você pode fazer algumas decorações com flores de alcaparras e folhinhas de manjericão; fica bem bonito e acompanha o prato com um toque bem interessante.

Para acompanhar, um vinho frisante rosé ou branco, bem gelado, fica muito bom.

Bom apetite.









domingo, 13 de janeiro de 2013

La Pizza - A Pizza

Ícone máximo da culinária italiana em todo o mundo, a pizza, como a conhecemos hoje, trilhou um caminho longo e muitas vezes nebuloso. Produto da mistura básica de farinha, água, sal e leveduras, a história da pizza começou com os egípcios. Acredita-se que eles foram os primeiros a misturar farinha com água. 

Outros afirmam que os pioneiros são os gregos, que faziam massas à base de farinha de trigoarroz ou grão-de-bico e as assavam em tijolos quentes. 

Ao contrário do conhecimento popular, apesar de tipicamente italiana, os babilônioshebreus e egípcios já misturavam o trigo, amido e a água para assar em fornos rústicos há mais de 5000 anos. A massa era muito parecida com os pães árabes atuais, e recebia o nome de piscea. Os fenícios, três séculos antes de Cristo, costumavam acrescentar coberturas de carne e cebola ao pão; os turcos muçulmanos adotavam esse costume durante a Idade Média. 

Mas foi em função das Cruzadas cristãs que esse costume culinário chegou à Itália, sem sombra de dúvidas pelo porto de Napoli, na Campanha, para então ganhar variantes de preparo, popularidade e conquistar o mundo. No início de sua existência, somente as ervas regionais, queijo e azeite eram utilizados. Os italianos foram os que acrescentaram o tomate, originário da América Central e levado à Europa pelos conquistadores espanhóis (que dominaram Napoli !!!).

A primeira pizzaria que se tem notícia, a Antica Pizzeria Port'Alba, está localizada no centro antigo da Napoli, e ainda hoje é ponto de encontro de artistas famosos. A pizza chegou ao Brasil através dos imigrantes italianos, fazendo de São Paulo a segunda maior "fabricante" de pizzas (a maior é Nova York), atingindo um total de 30 milhões de pizzas por mês.

Embora inúmeros tipos de preparo possam ser encontrados, segue minha sugestão para uma massa seca, que fica muito boa também ao ser preparada em forno comum; caso seja feita em forno a lenha, melhor.
 

Lá vamos nós:
- 1 kg de farinha;
- 30 g. de fermento biológico fresco (2 tabletes);
- 2 xícaras de água morna (480 ml);
- 1 xícara de leite morno (240 ml);
- 3/4 xícara de óleo (180 ml);
- 2 ovos;
- 1 colher de chá de sal;
- 1 colher de chá de açúcar;
- 1 colher de sopa de aguardente;

Dissolver todo o fermento em um pouco de água morna, sal e açúcar. Lentamente adicione o restante de água, farinha, leite, óleo e os dois ovos, até que a massa desgrude das mãos; nesse momento acrescente uma colher de aguardente. 


Sovar por uns 4 minutos e deixar a massa em repouso por uns 40 minutos, sempre em local aquecido e coberta por um pano de prato úmido. Depois desse tempo, dobre a massa sobre si mesma, por umas dez ou quinze vezes; esse processo de dobrar a massa sobre si mesma deve gerar uma mistura lisa e uniforme. 

Deixe descansar por mais uns 20 minutos; abra a massa sobre uma superfície enfarinhadas, em formato de discos finos, colocando-a sobre uma assadeira untada com um pouco de óleo. 

Faça também inúmeros furos na massa, não muito profundos, com o auxílio de um garfo, e leve ao forno por uns 5 minutos antes de colocar o recheio; isso fará com que a massa fique crocante e não absorva muito o molho de tomate.


Agora basta você escolher o recheio...mãos à obra.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Pane Ripieno - Pão Recheado

Em postagem anterior, contamos um pouco sobre a história dos pães; caso tenha interesse em ler um pouco, veja Pane Carasau - Crostata, de Novembro de 2012.

Esse tipo de preparo é bastante versátil e simples, além de instigar as pessoas a criarem seus próprios recheios; não me atrevo a dizer de onde esse tipo de preparo vem, já que é amplamente difundido em inúmeros países e regiões, cada qual com seus tipos de ingredientes e carga cultural, conferindo a cada cozinha uma identidade particular.

Gosto de preparar pães recheados em duas versões: com cogumelos frescos e mozzarella ou com linguiça calabresa e sementes de erva doce, muito embora outros tipos de recheio fiquem maravilhosos, como abobrinha refogada com queijo, nozes moídas com gorgonzola ou parmesão em lascas com mel de alecrim.

Além de tudo isso, é uma forma interessante de levar as crianças para a cozinha, de forma que tenham contato com as formas de preparo, conheçam ingredientes, criem seus recheios, e que futuramente não dependam de lasagnas congeladas ou macarrão instantâneo. Se você não leva as crianças para a cozinha desde cedo, obviamente com cuidados e cautela, não espere que elas saibam fritar um ovo quando estiverem crescidas. Lembre-se que cultura alimentar é construída desde cedo.

Explicarei a vocês primeiramente a receita básica, da massa de pão, e em seguida os recheios que mais aprecio. Obviamente você poderá ficar à vontade para criar o seu.

Massa (suficiente para o preparo de 2 pães grandes):

- 1 kg. de farinha de trigo;
- 3 colheres de chá de açúcar;
- 2 colheres de chá de sal;
- 2 1/2 colheres de chá de fermento seco (biológico);
- 2 colheres de sopa de azeite;
- 2 colheres de sopa de manteiga;
- 400 ml de água morna;
- 150 ml de leite morno;
- 4 gemas;



Adicione todos os ingredientes, exceto o fermento, dentro de uma tigela; no centro da massa, faça uma pequena cratera, e com cuidado adicione então o fermento seco. Misture a massa manualmente, sovando-a com vigor até que esteja bem homogênea; o ponto correto é quando a massa estiver grudando nos seus dedos, levemente pegajosa. Deixe descansar por aproximadamente 10 minutos, tampando a tigela com um pano úmido.

Cubra a tigela com um pano úmido, e reserve em local aquecido, sem corrente de ar, por 1 hora. Depois desse tempo, necessário para que a massa ganhe volume, divida-a em duas partes, e sobre uma superfície enfarinhada, abra-a em formato retangular, com largura de 40 cm e comprimento de aproximadamente 80 cm; a espessura da massa deve ter uns 3 mm.

Assim que a massa estiver aberta, acomode o recheio e na sequência enrole o pão; essa operação deve ser feita com cuidado e calma, evitando que a massa se abra. Feche as extremidades do seu pão com as mãos, evitando que o recheio vaze pelas laterais, e para um bom acabamento, coloque a linha de fechamento da massa para baixo, junto à superfície da assadeira.

Agora que você já acomodou os pães dentro de uma assadeira metálica, deixe-os descansar por aproximadamente 30 minutos, em lugar também reservado de correntes de ar, e se possível, levemente aquecido. Pré-aqueça o forno em temperatura média-alta (250 graus) por uns 20 minutos, e em seguida acomode a assadeira; o tempo de preparo é em torno de 40 minutos. Observe constantemente o pão de modo que não fique queimado e assim que a casca externa estiver tostada, é hora de desligar o forno.

Tive a felicidade de utilizar e inaugurar um forno a lenha (veja fotos), que renderam pães com uma casquinha bem crocante; mas isso pode ser obtido com a utilização de um forno a gás também.

Recheio 1 - Pão recheado com cogumelos frescos e mozzarella.

- 200 g. de Shitake frescos;
- 200 g. de Shimeji frescos;
- 200 g. de Champignon de Paris frescos;
- 4 colheres de sopa de molho de soja, tipo Shoyu;
- 30 g de manteiga;
- 3 colheres de azeite;
- 2 dentes de alho finamente picados;
- Um punhado de salsinha e cheiro verde;
- Sal e pimenta do reino a gosto;
- 300 g. de mozzarella ralada.

Lave os cogumelos em água corrente, de modo a eliminar impurezas, secando-os na sequência com papel toalha; fatie todos os cogumelos e reserve.

Em uma frigideira, preferencialmente tipo Wok, aqueça a manteiga e o azeite, e em seguida frite os dois dentes de alho bem superficialmente, evitando que fiquem muito dourados. Nesse momento adicione os cogumelos fatiados sob fogo médio, por aproximadamente 10 minutos.


Adicione o molho de soja, o sal, a pimenta e refogue por mais uns 5 minutos; assim que estiver pronto, ponha a salsinha e o cheiro verde e tampe a frigideira por mais 5 minutos. É importante que esse recheio não contenha muito caldo, para que não encharque a massa do pão; portanto, caso ainda esteja muito ensopado, leve ao fogo médio para que os líquidos sejam reduzidos.

Acomode o refogado de cogumelos sobre a massa e cubra-o com a mozzarella ralada.


Recheio 2 - Pão recheado com linguiça calabresa e sementes de erva doce.

- 400 g. de linguiça calabresa defumada;
- 4 colheres de sopa de sementes de erva doce;
- 1 pimenta dedo-de-moça cordada em fatias bem finas;

Corte a linguiça calabresa em fatias diagonais bem finas e coloque-as dentro de uma tigela. Misture a linguiça com as fatias de pimenta dedo-de-moça e deixe descansar por uns 15 minutos.

Assim que a massa estiver aberta, acomode as fatias de linguiça e em seguida polvilhe as sementes de erva doce. Simples e delicioso; a mistura da carne de porco com a erva doce libera um cheiro maravilhoso, com um sabor bem peculiar.



segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Sorbetto di Pesche e Lavanda - Sorvete de Pêssego e Lavanda

Fácil, delicioso e perfumado, o Sorbetto di Pesche e Lavanda é um tipo de sorvete cujo preparo não utiliza derivados de leite, apenas água e frutas. Por isso é extremamente refrescante e deve ser servido em dias quentes. Novamente típico da região da Emilia-Romagna, onde pêssegos e lavanda são abundantes, pode ser feito de modo rápido e muito barato.

O preparo é extremamente simples e para isso você precisará:

- 2 latas de pêssego em caldas;
- Suco de 1/2 limão siciliano;
- 5 colheres de sopa de flores de lavanda secas;
- 1 copo de água;
- 1/2 copo de suco de pêssego

Aqueça 1 copo de água em uma pequena panela; assim que estiver bem quente, porém sem ferver, adicione as 5 colheres de flores secas de lavanda e desligue o fogo; cubra a panela, adicione o suco de pêssego e aguarde 24 horas, de modo que a água fique bem aromatizada. Assim que a água estiver em temperatura ambiente, leve a panela à geladeira.
Após o tempo de descanso, essencial para que a água fique aromatizada, coe a mistura, eliminando as flores de lavanda. Coloque a água aromatizada dentro do liquidificador.

Ponha os pessegos drenados, ou seja, sem a calda, também dentro do liquidificador. Adicione também a calda de apenas uma das latas e o suco de meio limão siciliano; a calda da outra lata não deve ser utilizada, para que o sorvete não fique muito doce. Bata tudo no liquidificador.

Em seguida, bata a mistura na sorveteira, ou em uma panela de aço inox ou cerâmica bastante fria (pode ser resfriada no freezer por uma hora antes do preparo). Caso esteja utilizando uma panela, leve a mistura ao freezer por cerca de uma hora, mexendo de 20 em 20 minutos até que esteja bem consistente.

Ao servir, polvilhe flores secas de lavanda.

Simples.
 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Cinghiale al Profumo di Lavanda - Javali ao Perfume de Lavanda

Tenho uma profunda admiração pelas comidas simples, de camponeses, pastores e caçadores; são sabores hoje pouco explorados, um tanto esquecidos, mas que são repletos de vigor, com o gosto da terra e do básico. Ao contrário do que muitos pensam, a carne de caça não é cheia de gorduras e não tem um gosto intragável; pelo contrário, esse tipo de carne tem baixíssimo teor de lipídeos e altos níveis proteicos.

A carne do javali, por exemplo, é bem mais magra que a do seu primo domesticado, o porco, além de um pouco mais adocicada, acinzentada e marcante. Outro interessante exemplo é a carne de cervo, que possui níveis de gordura ainda mais baixos que o peito de peru, e ao mesmo tempo lembra um bom bife bovino, porém mais adocicado e suculento.

A carne de caça exige preparos um pouco diferentes da carne convencional, de pastagem, granja ou pastoreio; lembre-se que animais de caça caminham praticamente o dia todo à procura de alimento, fugindo de predadores e cuidando de seus filhotes, portanto, é muito natural que esse tipo de carne seja um pouco mais dura e adocicada, em função da alimentação à base de bagas, frutos e raizes.

O preparo pode ser feito de duas maneiras: a primeira delas, e muito mais tradicional, é feita de longas marinadas, utilizando ervas mais rústicas, como o alecrim, o estragão ou a lavanda, vinho branco cítrico (Blanc des Blancs, Riesling ou Torrontes), azeite não filtrado, alho e bagas rústicas como o zimbro. As longas marinadas servem para amaciar a carne através da maceração das fibras, deixando-a mais macia, além de temperar a carne com sabores bem naturais, semelhantes àqueles que os animais se alimentam na própria natureza. Essas marinadas devem ser prolongadas, com tempo mínimo de 18 horas, chegando, em alguns casos, a até 48 horas.

O outro tipo de preparo é o de marinadas leves, bem superficiais, estilo adotado pelo chef italiano Igles Corelli; esse tipo de marinada é bastante rápida, de modo que a carne de caça mantenha seu sabor natural praticamente intacto. Os ingredientes são os mesmos, porém o tempo é reduzido para cerca de 30 minutos. É importante lembrar que esse estilo de preparo exige um certo treino do paladar, evitando assim decepções com relação à docura da carne e seu sabor aparentemente sem sal.

Para prepararmos o "Cinghiale al profumo di lavanda", prato apreciado especialmente na Umbria, precisaremos:

- 1 kg de lombo de javali, cortado em 4 pedaços menores de igual tamanho.
- 3 colheres de sopa de flores de lavanda (secas ou frescas);
- 3 flores inteiras de lavanda para finalização;
- 4 dentes de alho;
- 2 cálices de vinho branco seco (Blanc des Blancs, Riesling ou Torrontes);
- 1/2 copo de azeite não filtrado;
- Pimenta do reino ralada na hora;
- 1 pequeno ramo de alecrim.
- 1 cabeça de alho inteira para decoração;
- Groselha "in-natura" para decoração do prato.

Com ajuda de uma faca bem afiada, corte a gordura do javali em losangos, como indicado na foto ao lado; em seguida, unte a gordura com um pouco de azeite e rale a pimenta do reino, massagendo a carne.

Com a ajuda de um cadinho, ou almofariz, triture as três colheres de flores de lavanda com um pouco de azeite. A lavanda liberará um perfume maravilhoso durante o processo de cozimento, além de temperar a carne com um gosto cítrico; é importante lembrar que a lavanda é "parente" próxima do alecrim, e pode subsitituí-lo com sucesso nas marinadas. A grande vantagem de utilizarmos a lavanda é o sabor levemente adocicado e crítico que ela confere à carne, com um fundo de perfume.
Muitas pessoas me perguntam como e onde encontro a lavanda; na verdade planto minha própria lavanda, na varanda do meu apartamento, mas você poderá encontrar as flores secas e igualmente perfumadas em empórios, ou mesmo no Mercado Municipal da Cantareira, o Marcadão de São Paulo.

Agora que as flores já estão trituradas com azeite, acomode todos os pedaços de lombo dentro de um refratário; adicione o vinho, o restante do azeite, os dentes de alho cortados ao meio e as folhas de alecrim. Reserve as flores inteiras da lavanda para o momento do cozimento, e não adicione sal à marinada. O sal deve ser evitado nesse momento, já que ele retira todo o suco da carne em marinadas longas.

Cubra o refratário com filme plástico e deixe na geladeira por 24 horas, virando a gordura para baixo por algumas vezes.

Depois do tempo da marinada, retire os pedaços de lombo de dentro do refratário, secando cada um deles com papel toalha. Não jogue fora o caldo da marinada, pelo contrário, coe e reserve, pois ele será utilizado no processo de cozimento.

Acomode os quatro pedaços dentro de uma forma metálica, mantendo a gordura para o lado de cima; nesse mesmo momento pegue a cabeça de alho inteira, envolva-a com papel alumínio, acomode-a também dentro da assadeira e cubra tudo com um pedaço de papel alumínio.

Leve ao forno baixo por 1 hora, adicionando um pouco do caldo da marinada a cada 20 minutos, de modo que os pedaços fiquem sempre umidecido. Depois de 1 hora em forno baixo, remova o papel alumínio, adicione o restante da marinada e ponha um punhado de sal grosso sobre a camada de gordura. Esse é o único momento em que o sal será adicionado à receita.

Acomode as três flores de lavanda inteiras sobre a carne, para que liberem o perfume durante a fase final de cozimento. Na verdade o javali já estará cozido depois de 1 hora em forno baixo, e agora ele ganhará uma cor marrom.

Para isso, aumente o forno para um temperatura bem alta, e aguarde aproximadamente 30 ou 40 minutos, verificando a assadeira para que a carne não queime, mas que fique apenas dourada.
Caso queira, você poderá servir os pedaços inteiros, ou cortá-los em fatias. Uma salada de agrião temperada com azeite, sal e limão acompanha esse prato muito bem.

Outra sugestão para servir é com arroz branco e lentilhas; para decorar sugiro utilizar bagas de groselha "in-natura"; além de bonitas, também combinam bem com a carne do javali.

Está pronto; para acompanhar sugiro um tinto robusto e forte, como um italiano Sangiovese Grosso, ou um Malbec argentino.

Acho que assim está bom pra começarmos o ano.